A gente produzia as bonecas com restos de roupas, tecidos de roupas que não serviam mais, porque não tinha, naquela época, até pra ganhar um retalho era difícil. A gente não tinha dinheiro pra comprar, então nós produzia tudo feito na mão, não tinha nada feito em máquina, a gente não tinha máquina. Então a gente se reunia em uma tarde, em um horário fora de aula, se encontravam as gurias e iam fazendo as bonequinhas, tudo costuradinha, botava cabelinho, vestia, botava sapatinho. E ai depois a gente se reunia com elas pra brincar, a gente saia a passear, fazia umas carrocinhas de lata de óleo. Ai nós fazia elas passear, elas iam em Pelotas, elas iam em Canguçu. Ai todas elas tinham nome, era uma família inteira. O pai das crianças, tinha a mãe das crianças, tinham as crianças, e tudo tinham nome. A gente chamava uns nomes estranhos, era “Nêga”, tinham uns nomes muito esquisitos, de todo o tipo [...] O brinquedo tudo era igual: a gente fazia a caminha, fazia guarda-roupinha de caixinha de remédio, a gente montava uma casinha pra elas. E aí nós tinha uma família inteira.
texto: Depoimento de Carmem Lúcia dos Santos, Grupo de Mulheres Artesãs da Comunidade Quilombola de Maçambique, Canguçu/RS