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A travestilidade é uma identidade de gênero característica da América do Sul, original e orgulhosamente brasileira. As travestis começam a se reconhecer assim por volta dos anos 1960-70, adotando uma expressão que até então se referia à prática debochada e desrespeitosa de homens se fantasiarem de mulher durante o carnaval. Ressignificando positivamente uma expressão depreciativa, a identidade travesti expressa não só o reconhecimento da feminidade desses corpos, mas também a luta contra a prostituição compulsória, a violência urbana e policial e o preconceito social. Um beijo e um salve às travestis.
Pessoas que não se enquadram no modelo social e biológico ocidental de homem e mulher parecem sempre ter existido e surgido. Não são um fenômeno do contemporâneo ou de um passado recente relacionado com progresso tecnológico e social, como se diz muito por aí. “Antigamente não tinha isso não...”. Ao que tudo indica, tinha sim! E essas não eram pessoas rejeitadas, discriminadas ou condenadas, pelo contrário. Elas podiam ter importância política e econômica, além de religiosa. Novidade mesmo é o entendimento de homem e mulher como polos radicalmente distintos, opostos e hierárquicos, destinados a formar famílias nucleares cisheterossexuais e (re)produtivas. A família nuclear só aparece pronta e acabada no século XIX – ainda que comece a se delinear no século anterior. Mesmo assim, é esse modelo que costumamos ter em mente quando imaginamos o passado, seja do ocidente, seja de outros povos e culturas.
O modo ocidental de lidar com o passado – sempre como reafirmação das hegemonias do presente - dificulta, as vezes até impede, conhecer formas diferentes de lidar com o que hoje é tratado por gênero, sexo, sexualidade e família. Mas outros modos sempre estiveram aí. O que precisamos hoje é desconstruir todo o ódio e discriminação produzidos por séculos de apagamento e estigmatização. Para começar, quem sabe na próxima vez em que você testemunhar qualquer tipo de violência contra pessoas LGBTQIAP+, na próxima vez que um pensamento preconceituoso surgir em sua mente, você pare alguns minutos para refletir sobre as relações entre racismo, misoginia e a discriminação e preconceito contra pessoas de gênero e sexualidade não normativos. Quem sabe então você também se dê conta de que estamos todes do mesmo lado...